Publicada em 25/09/2013 às 14:52
Lançada no último mês, a
Nota de Política sobre as Mulheres Rurais da Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta crescimento do percentual
de mulheres responsáveis por atividades agropecuárias na América Latina e
Caribe. No Brasil, os dados mostram que 13% dos agricultores são
mulheres.
O processo de feminização do campo encorpa um fenômeno que já foi
observado no meio urbano: as mulheres estão, cada vez mais, conquistando
autonomia econômica, reconfigurando o cenário do mundo do trabalho. Por
consequência, a partir do incremento da renda familiar, percebe-se
melhorias nas condições de bem-estar social dos agrupamentos familiares.
Apesar dos dados indicarem avanços no que tange à distribuição do
trabalho entre homens e mulheres, o estudo destaca desigualdades na
garantia de direitos e acesso a recursos. Em geral, de acordo com a FAO,
as trabalhadoras rurais têm mais dificuldade em obter assistência
técnica, capacitação e acesso a crédito. Nesse sentido, a ONU recomenda
aos programas de extensão rural oferta de tratamento diferenciado em
termos de gênero, especialmente nas políticas dirigidas à agricultura
familiar.
Recorte brasileiro
Não há dúvidas do quanto a agropecuária significa em termos
econômicos para o desenvolvimento do Brasil. Fazendo um recorte apenas
para os negócios ligados à agricultura familiar, os números
impressionam. Dados do IBGE mostram que empreendimentos nesse segmento
representam cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) agrícola, 85%
dos estabelecimentos agropecuários e quase 77% dos postos de trabalho na
agricultura.
Apesar da representatividade do setor para a economia brasileira,
poucos estudos se debruçam sobre a presença das mulheres no trabalho
rural e a importância de sua atuação para a garantia da produção. O que
se sabe é que muitas trabalhadoras ainda atuam sem qualquer remuneração
ou valorização profissional e conjugam o ofício com as atividades do
lar.
Em contraste a essa realidade, alguns grupos produtivos formados
apenas por mulheres apontam uma mudança no cenário. Governos, organismos
internacionais e investidores sociais, atentos ao movimento, têm
direcionado esforços para a inclusão socioprodutiva feminina e
empoderamento das trabalhadoras, no campo e na cidade.
No Programa ReDes, são vários os casos de associações e cooperativas,
lideradas por mulheres, que estão executando projetos em prol do
desenvolvimento local. Na região de Niquelândia, no estado de Goiás, a
Associação das Mulheres do Rio Vermelho (AMURV) é um exemplo.
O grupo, constituído por 36 associadas, nasceu em 1999, inspirado
pela experiência de outra iniciativa, a Associação de Produtores Rurais
Junto ao INCRA – Arvin, formada apenas por homens.
“Observando o trabalho do meu marido e dos outros associados, percebi
que havia oportunidades ainda não exploradas. Como eles trabalhavam
principalmente com milho e arroz, surgiu a ideia de criarmos uma outra
associação para atuar com poupas de frutas e doces”, explica Diana Maria
Rodrigues Gebrim. Ali surgia então a AMURV.
Hoje, no papel de tesoureira da organização, Diana observa a
transformação das empreendedoras. “Muitas mulheres não tinham renda e
dependiam completamente de seus maridos. Com a associação, elas viram
uma oportunidade de remuneração. Muitas estão aprendendo uma profissão.
Vejo também mudanças no campo pessoal. Estão mais valorizadas. Agora,
elas garantem o complemento da renda da casa.”
Diana salienta uma característica do grupo que tem feito a diferença
no trabalho. “As mulheres acabam incluindo mais. Somos um grupo aberto a
sugestões. A participação da família é muito grande. Todos ajudam nas
decisões.”
Para a associada, o apoio no início foi fundamental. “Com o suporte
do Programa ReDes estamos crescendo. Foi com ele que percebemos que só
com poupa de frutas e doces o negócio não ia crescer. Agora atuamos
também com verduras. Conseguimos entender melhor o mercado. Nosso sonho
é ver a nova sede construída. Trabalhamos em um galpão improvisado, mas
isso já vai mudar. Os recursos estão chegando e vamos ficar ainda mais
fortes.”
Apesar de estarem apenas no início de um longo percurso, Diana já
celebra alguns resultados. “Conquistamos muito mais do que um trabalho.
Conquistamos o respeito e a admiração de nossos maridos e de nossas
famílias. Isso é uma grande vitória.”
Fonte:
http://www.programaredes.org.br/cresce-a-participacao-de-mulheres-em-empreendimentos-agropecuarios/